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CONTEXTO DA FOME

A FOME VOLTOU?

Principais órgãos mundiais de monitoramento alertam que a fome cresceu nos últimos anos e que o Brasil pode voltar ao mapa da fome

 

No Brasil, segundo o IBGE, a crise econômica, que teve início em 2014, dobrou o número de pessoas em condição de miséria extrema. Quatro anos atrás, 7 milhões de brasileiros não tinham o que comer. Hoje, mais de 13 milhões passam fome no País.

 

O diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), José Graziano, afirmou em dezembro do ano passado, ao portal Valor Econômico que a recessão econômica, que deixou 13 milhões de pessoas desempregadas, a diminuição na arrecadação de impostos, o corte dos gastos públicos e dos programas sociais, resultado da PEC do Teto dos Gastos, são alguns dos fatores que elevaram o nível de empobrecimento, inclusive na alimentação da população brasileira.

 

 

 

 

 

 

 

Eu já passei muita fome durante a minha infância e adolescência, mas é muito triste saber que esse problema tão antigo ainda está presente e atinge tanta gente nos dias de hoje”,  afirma Rita Felix, 79 anos.

Rita tem razão. Segundo dados divulgados em 2016 pela ONU, aproximadamente 1 bilhão de pessoas sofrem com a falta de alimentos no mundo. São cerca de 25 mil mortes diárias causadas por doenças relacionadas à falta de nutrientes, apesar de a agricultura planetária ter a

capacidade de alimentar cerca de 12 bilhões de pessoa, quase duas vezes a população mundial.

Rita Felix, hoje aposentada, já sentiu a fome de perto.

Foto: Equipe Fome de Quê?

Ainda segundo José Graziano, "se o Brasil não voltar a crescer de forma sustentada e não tiver um revigoramento do mercado de trabalho, simultaneamente a uma correção nos valores de transferência de renda, corremos o risco de voltarmos ao mapa da fome". (Acompanhe mais no texto sobre o Mapa da Fome)

“Já fui muito humilhada por causa de comida. Hoje eu tenho onde  dormir, mas eu necessito de alimentação. Não adianta ter casa e não ter alimento. Não dá pra ter tudo, pagar aluguel, pagar a luz e não ter a comida”, disse Heloisa de Oliveira, 70 anos.

Heloisa de Oliveira, 70 anos. Foto: Equipe Fome de Quê?

Segundo o IBGE, quando se avaliam os níveis de pobreza no País por Estados e capitais, as regiões Norte e Nordeste, ganham destaque negativo. São nessas regiões que também se concentram a maior população em situação de fome no País.

O Maranhão é o principal Estado onde mais de 60% da população passa por dificuldades para se alimentar. Seguida do Amazonas, Alagoas, Piauí, Acre e Pará. O IBGE identificou, também que, o problema da fome incide em 6,3% na zona rural contra 3,1% detectado na zona urbana.

 

A constatação de que a fome é mais grave nas regiões Norte e Nordeste não é atual. Sempre foi assim, de acordo com o primeiro mapa alimentar do Brasil, feito por Josué de Castro, divulgado em 1946, no livro de sua própria autoria, chamado Geografia da Fome.

 

No mapa, Josué coloca a Região Amazônica e o litoral nordestino como áreas de fome endêmica, onde as manifestações do problema eram permanentes. O agreste nordestino foi classificado como área de epidemias de fome, onde haviam manifestações transitórias dela. Já o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul foram descritos como regiões de subnutrição.

 

Josué de Castro (1908-1973) era, entre outras coisas, pernambucano e geógrafo, e foi reconhecido mundialmente por ser um precursor quando o assunto é fome. Ele dizia que “o primeiro direito do homem é o de comer”. E foi em Geografia da Fome (1946) e em Geopolítica da Fome (1952) que ele defendeu a urgência de acabar com “a conspiração de silêncio em torno da fome”. Segundo o geógrafo Manuel Correia de Andrade, antes dos livros, se conhecia a fome, mas não se falava nela.

Assim, Josué elevou a análise da fome a um nível internacional, confirmando a tese de que a estrutura sócio -econômica, que gera desigualdades vem da má distribuição dos alimentos e dos latifúndios, da ausência de reforma agrária, do subdesenvolvimento e da concentração de riquezas. Nesse sentido, ele demonstrou como os processos de colonização e dependência econômica estão diretamente ligados à geração de pobreza e miséria extrema no mundo.

A contribuição do geógrafo foi muito importante na luta para a diminuição da fome. Foi a partir das pesquisas dele que Getúlio Vargas implantou, em maio de 1940, o primeiro salário mínimo do Brasil. A implantação da merenda escolar, iniciada em 1954, também teve a participação de Josué.

Os benefícios sociais que transferem renda, como o Bolsa Família, por exemplo, contribuem e são importantes para a erradicação da fome no País, mas ainda são insuficientes, sendo necessário políticas públicas mais eficazes no combate deste problema, para que o Mapa da Fome não seja mais uma ameaça ao Brasil.

FOME E DESNUTRIÇÃO

 

“O problema da fome provoca a instabilidade e inquietação social. Ele tornou-se, sem dúvida alguma, o maior sabotador da paz no mundo atual. Sua ação social negativa não se limita às regiões onde ela vicia, mas seus efeitos vão bem mais longes e repercutem com intensidade na economia e na vida política das nações”. As palavras do geógrafo Josué de Castro, servem como base para o entendimento sobre o que é a fome.

A fome certamente é um termo difícil de se definir. Ela caracteriza-se pelo momento em que o indivíduo não consegue suprir as necessidades de nutrientes fundamentais para manter sua saúde e seu organismo funcionando adequadamente. Resultado de aspectos sociais, econômicos e da má divisão de terras e alimentos. Segundo Josué, ela se divide em duas: a fome aguda (total) e a fome crônica (parcial).

No livro “Fome: um tema proibido”, Josué de Castro explica que: “existem 2 maneiras de morrer de fome: não comer nada e definhar de maneira vertiginosa até o fim, ou comer de maneira inadequada e entrar em regime de carências ou deficiências especificas, capaz de provocar um estado que também pode levar à morte. Mais grave ainda que a fome aguda, devido as suas repercussões sociais e econômicas, é o fenômeno da fome crônica que corrói silenciosamente inúmeras populações”.  Acompanhe, à seguir, relatos de pessoas que vivenciam a fome:

 

 

 

As pessoas que enfrentam a fome sentem na pele seus efeitos: anemia, náuseas, assim como apatia, depressão e extrema dificuldade de concentração são alguns dos danos físicos e psicológicos causados pelo problema. Neste sentido, a desnutrição equivale a um dos danos mais graves causados pela fome crônica, ela é resultado do consumo insuficiente de nutrientes, principalmente de proteínas e de calorias.

Segundo o relatório da FAO, de 2014, o índice de subalimentados no Brasil diminuiu, sendo registrados 3,4 milhões de desnutridos. Mas esse número pode ter aumentado, já que o País está ameaçado a voltar para o Mapa da Fome. 

A população mais propensa à desnutrição, diante o problema da fome, é a infantil, pois depende diretamente da assistência de outras pessoas para se alimentar. Por sua vez, os pais ou responsáveis, na maioria dos casos, não possuem condições de suprir, adequadamente, essa necessidade. Como consequência dessa carência alimentar, há diminuição do ritmo e da taxa de crescimento e de ganho de peso, além do comprometimento da cognição e da aprendizagem.

Em decorrência da falta de higiene e de saneamento básico, condições impróprias e insalubres das moradias, da maior parte das vítimas da fome, os quadros frequentes de doenças intestinais e infecções somente agravam a situação e podem elevar as taxas de mortalidade, principalmente de crianças com menos de 5 anos.

Para resolver os vários problemas e efeitos causados pela fome, é preciso uma política que atenda a população no que diz respeito às suas necessidades básicas. Parafraseando, Josué de Castro, o caminho para a salvação do problema da fome, deve partir de uma reestruturação econômica e social onde o ser humano deve ser o centro da discussão e do interesse social.

PROJETO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO / RECIFE / 2018

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